Se você estivesse em Brasília na última sexta-feira (19), presenciaria um momento de transformação social e política do país. A 5ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Conapir) chegou ao seu encerramento com a apresentação de um documento final recheado de propostas, pronto para ser entregue ao governo federal. Tratam-se de orientações cruciais para moldar políticas públicas que promovam igualdade, democracia, reparação histórica e justiça racial.
O evento que ocorreu no Centro de Convenções Ulysses Guimarães reuniu cerca de 2 mil participantes, entre delegados, convidados e observadores. Juntos, analisaram 740 propostas discutidas anteriormente nos encontros municipais, estaduais e regionais. Esse tipo de diálogo em grande escala é vital para fortalecer a voz das comunidades e impulsionar mudanças efetivas.
Como foram escolhidas as propostas finais da Conapir?
A seleção das propostas não foi tarefa simples. Durante a reunião deliberativa, ocorrida na quinta-feira (18), as propostas foram votadas por todos os delegados presentes, garantindo que o documento final realmente refletisse o desejo coletivo. O destaque da plenária foi a homenagem à socióloga Luiza Bairros, reconhecida militante do movimento negro e ex-ministra da Igualdade Racial, falecida em 2016.
Como as manifestações culturais enriqueceram a conferência?
Um dos pontos altos do evento foi a presença vibrante das comunidades de terreiro de religiões de matriz africana, como o Candomblé e a Umbanda. Com "seu axé", eles trouxeram cantos, vestimentas e adornos, pedindo respeito às tradições ancestrais e resistência cultural. Essas manifestações não foram apenas simbolismo; elas trouxeram vida e cor para o debate, destacando a importância da inclusão e do respeito à diversidade.
Por que a capoeira deve ser integrada à educação formal?
A Conapir foi mais que uma conferência, foi um cenário de protagonismo para culturas tradicionais. Capoeiristas, unidos ao som de berimbaus, reivindicaram que a capoeira seja incluída nos currículos escolares, não apenas como uma prática esportiva, mas como uma celebração da cultura afro-brasileira. Integrar a capoeira na educação é exaltar seus valores de tradição, ética e disciplina, mais do que simplesmente apresentá-la como um elemento turístico.
Qual é o impacto da Conapir na vida dos delegados?
Os impactos reverberam além das discussões formais. Martha Lúcia Briola de Souza, uma jovem mãe, expressou medo de que seu filho, de apenas 8 meses, seja vítima de discriminação racial no futuro. Atualmente, o cenário brasileiro ainda carrega resquícios do passado colonial e escravagista, que, infelizmente, impacta na percepção e tratamento das pessoas no dia a dia.
“Tenho medo de confundirem meu filho com um bandido se o julgarem pela cor dele, porque o alvo sempre tem, no meio, o preto. Nossos corpos não têm que morrer dessa forma. Temos que viver. Nosso corpo precisa de bem-viver”, diz a universitária.
Por que a igualdade racial é crucial?
Luana Evanderlina, uma delegada de 74 anos, vê no evento uma chance de pleitear igualdade e reparação histórica. Ela acredita que reconhecer a contribuição dos negros para o desenvolvimento do Brasil é essencial para vislumbrar um futuro mais justo.
“O Brasil, literalmente, é um país negro. Esse legado é nosso, porque quem fez esse país foi o povo preto retinto.”
Confira a programação de encerramento da V Conapir para esta sexta-feira (19) aqui.
Com informações da Agência Brasil