Mais de um ano após as difíceis enchentes que tormentaram o Rio Grande do Sul entre abril e maio de 2024, a comunidade da Ilha da Pintada, localizada no bairro Arquipélago em Porto Alegre, volta a enfrentar os desafios trazidos pela força das águas do Rio Jacuí. Envolta em desafios constantes, a Ilha da Pintada está entre as áreas mais vulneráveis a enchentes, segundo a Defesa Civil municipal, situada no Delta do Jacuí, região onde o rio despeja cerca de 80% das águas que formam o Lago Guaíba.
Nas últimas semanas, a intensidade das chuvas elevou o nível do Guaíba, ultrapassando a cota de inundação das áreas adjacentes à ilha. Como resultado, ruas foram tomadas pela água, invadindo residências e comércios, e muitas famílias foram forçadas a deixar suas casas temporariamente.
Como a ilha está lidando com as inundações atuais?
"Algumas ruas estão alagadas, intransitáveis, desde a semana passada", compartilhou Alexandre Rossato, proprietário de uma marina na rua Nossa Senhora Boa Viagem, ao Agência Brasil. Ele relata que o galpão de três mil metros quadrados foi tomado pela água e parte dos píeres foi danificada. Após sofrer prejuízos no ano passado, Rossato e sua equipe agiram rapidamente ao primeiro sinal de inundação, suspendendo as 230 motos aquáticas sob seus cuidados, mitigando os estragos.
A solidariedade pode fazer a diferença?
Embora o atual evento de inundação não seja tão severo quanto o de 2024, mudanças significativas no nível do rio, provocadas pelo assoreamento, estão agravando a situação, segundo Rossato. A comunidade tem contado com a solidariedade de vizinhos e amigos. "No ano passado, colocamos 50 embarcações para resgatar pessoas e até salvamos bombeiros pouco familiarizados com o local." Nesta crise, 11 famílias estão abrigadas nos apartamentos acima da marina.
Paola Sum, agente de educação, seu filho e sua mãe foram forçados a buscar refúgio em um desses apartamentos após suas casas serem inundadas. "Tentamos erguer o máximo possível de mobília com pallets de madeira, mas optamos por sair antes de ficarmos isolados", relata Paola. Familiarizada com enchentes, ela afirma que as condições estão piorando, já que "houve ao menos quatro grandes inundações de 2023 para cá".
Como a comunidade está enfrentando desafios adicionais?
No Quilombo da Resistência e na Quitanda da Bia, administrados por Beatriz Gonçalves Pereira, a situação não é diferente. "Embora não se compare à cheia catastrófica de 2024, esta enchente é significativamente preocupante", afirma Bia, destacando a estabilização temporária da situação. As dificuldades adicionais incluem o desligamento da energia elétrica em partes da ilha para prevenir acidentes, complicando a comunicação e afetando pessoas com condições de saúde e comércios com produtos congelados.
"Por um lado, é uma sensação de impotência... Mas somos resistência. Uns ajudam aos outros… A solidariedade comunitária e o apoio dos órgãos públicos, que distribuem água e alimentos, reforçam nossa resiliência e determinação de recomeçar", finaliza Bia.
A Agência Brasil tentou entrar em contato com a Defesa Civil de Porto Alegre, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.
Com informações da Agência Brasil