No Rio de Janeiro, uma iniciativa inovadora está fazendo diferença na vida de muitos homens. Desde dezembro, cerca de mil internos da Cadeia Pública Juíza Patrícia Acioli, em São Gonçalo, têm participado de grupos reflexivos que buscam reeducá-los em relação à violência de gênero. O programa SerH – Serviço de Educação e Responsabilização do Homem – está ajudando a diminuir a reincidência entre aqueles que já cumpriram suas penas.
Impressionantemente, enquanto antes o índice de reincidência era de 17%, agora apenas 1,5% dos 195 que deixaram o sistema prisional nos últimos seis meses foram denunciados por novas agressões. O segredo? Uma série de oito encontros que promovem debates sobre masculinidade e violência contra as mulheres, tudo em um ambiente de reflexão coletiva e sem redução da pena.
O que acontece nos encontros reflexivos do SerH?
Os grupos do SerH reúnem até 35 homens por vez para discutir temas importantes sobre comportamento e responsabilidade. A ideia é clara: incentivar uma mudança verdadeira de conduta. A participação nesses encontros é voluntária, mas os frutos são intensos. Após cumprirem suas penas, os participantes são monitorados por um ano, o que ajuda a garantir que as lições aprendidas não sejam esquecidas.
Como essas sessões mudam percepções?
Os resultados das sessões do SerH vão além das estatísticas de reincidência. Questionários aplicados antes e após os encontros mostram um aumento significativo no reconhecimento de várias formas de violência. Por exemplo, a percepção de que esconder dinheiro e documentos é uma forma de violência patrimonial cresceu de 34% para notáveis 76,5%. Reconhecer que controlar a roupa da parceira é violência psicológica subiu de 57% para 80%.
Quais são os próximos passos?
Durante o Seminário Nacional sobre Masculinidades e Prevenção às Violências, Gary Baker, do Promundo, destacou a necessidade de políticas integradas: "Necessidade de uma política integrada, conectada, que vai junto com a proteção das mulheres. Então eu acho que é o momento de fortalecer ainda mais e dizer que não tem como não incluir essa conversa de prevenção com os homens, homens aliados e um trabalho necessário com os homens autores de violência. Tudo isso junto."
Além disso, Marcos Nascimento, pesquisador da Fiocruz, ressaltou que a violência é um comportamento aprendido e que pode, portanto, ser desaprendido: "É um produto social que precisa ser enfrentado de diferentes maneiras, formas. E que não cabe somente a uma instituição ou ator específico falar sobre isso ou trabalhar esse tema. Então me parece que a gente precisa tirar da cena a ideia da naturalização da violência, que é natural ser violento. Não é. É um comportamento que se aprende. Se podemos aprender a ser violento, a gente pode aprender a ser de outra forma."
Quem são os participantes desses programas?
Um levantamento mostrou que grande parte dos participantes se declara negra (73%), muitos são evangélicos (63%) e uma parcela significativa lida com vícios em álcool (64%). Esses dados ajudam a entender o perfil dos envolvidos e apontam para a importância de programas de reeducação adaptados às características específicas desses grupos.
Com informações da Agência Brasil