Você sabia que um em cada três casos de violência política na região metropolitana do Rio de Janeiro é impulsionado pelo ódio, envolvendo questões como racismo, misoginia, homofobia e transfobia? Essa é uma das chocantes conclusões de um estudo da organização Observatório das Favelas, revelado na última terça-feira (14). Este levantamento é um chamado urgente para entendermos a dimensão e as raízes desse problema no nosso meio político.
A pesquisa detalha que, entre janeiro de 2022 e junho de 2025, ocorreram 267 incidentes de violência política no Grande Rio, dos quais 89 têm motivações de ódio. Essa estatística faz parte de um cenário ainda mais alarmante onde o aumento de atos de violência acompanha a ascensão da extrema direita no país.
Por que a violência política está aumentando?
Segundo Leandro Marinho, pesquisador responsável pelo estudo, a política se tornou um catalizador de ódios variados, que se transformam em atos de violência. Esse fenômeno é especialmente visível com o crescente número de ataques a pessoas negras, que dobraram de 17 para 30 casos entre 2022 e 2024. "O dado mostra um padrão estrutural e histórico de exclusão e silenciamento de lideranças políticas negras", afirma Marinho.
Qual é o impacto das eleições nesse cenário?
O estudo reflete também sobre o impacto das eleições nesse panorama de violência. Nota-se um acirramento dos atos violentos nos períodos eleitorais, de junho a outubro. Nesta janela, o número de assassinatos políticos na Baixada Fluminense, por exemplo, aumenta significativamente, passando de um a cada 75,6 dias para um a cada 22,5 dias.
Quais são as formas mais comuns de violência política?
Entre os tipos de violência política identificados, a agressão verbal lidera com 15% dos casos, seguida pela repressão a manifestações políticas (13%), atentado contra a vida sem morte (12%), execução (12%) e ameaças (10%). Na maioria das ocorrências, os agressores utilizam armas de fogo, resultando em 33 atentados e 31 execuções no período estudado.
Quem são os principais responsáveis por essas violências?
Os dados do Observatório das Favelas também expõem quem são os principais perpetradores: políticos (59 registros), policiais (58) e grupos armados (29). Entre os políticos, agressões verbais e físicas são as mais comuns. Nos casos envolvendo policiais, a maioria diz respeito à repressão em manifestações políticas, demostrando uma face preocupante da atuação das forças de segurança.
“É um dado que, sem dúvida, indica o quanto as instituições policiais são pouco afeitas à democracia", reflete Marinho, chamando atenção para a necessidade de maior preparo das forças de segurança para lidar com protestos pacíficos.
Como os dados foram coletados?
Para obter esses números, os pesquisadores se basearam em casos noticiados pela imprensa, abrangendo uma região com histórico marcante de violência política, incluindo a Baixada Fluminense e a Baía de Ilha Grande. Este trabalho foi realizado em parceria com instituições acadêmicas como a UFF e a Uerj.
O que podemos fazer diante disso?
Cientistas políticos concordam que reforçar a democracia requer abordagens rigorosas. André Rodrigues, professor da UFF, sugere uma fiscalização mais robusta da Justiça Eleitoral sobre possíveis crimes de candidatos, além de unir esforços para desarticular práticas de coronelismo e clientelismo.
Recomenda-se ainda uma quarentena política para agentes de segurança pública, impedindo o uso do capital de poder estatal como moeda política e protegendo a integridade do processo democrático.
Com informações da Agência Brasil