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BRASIL

Tiroteios constantes afetam desenvolvimento de crianças em comunidades

Imagine acordar pela manhã e se deparar com um cenário que mais parece de guerra: corpos espalhados, drones passando sobrevoando, blindados e fuzis apontados, veículos em chamas e ônibus bloqueando ruas. Este foi o cenário que testemunhamos recentemente n

31/10/2025

31/10/2025

Imagine acordar pela manhã e se deparar com um cenário que mais parece de guerra: corpos espalhados, drones passando sobrevoando, blindados e fuzis apontados, veículos em chamas e ônibus bloqueando ruas. Este foi o cenário que testemunhamos recentemente nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro. Em 28 de setembro, a intensa Operação Contenção das forças de segurança estadual expôs ao mundo a dura realidade da violência urbana e o impacto devastador na saúde mental das comunidades afetadas.

A população da região vive uma situação de permanente alerta, algo que influencia diretamente o sistema nervoso e o desenvolvimento psicossocial, principalmente em crianças e adolescentes. Viver com o perigo constante dos tiroteios compromete muito mais do que a segurança física; trata-se de uma questão de saúde pública urgente a ser enfrentada.

Como o estresse afeta as comunidades vulneráveis?

Em um cenário de violência urbana constante, a saúde mental é um dos aspectos mais afetados. Segundo a renomada psicóloga Marilda Lipp, o estresse gerado por esse ambiente pode levar a sérios problemas emocionais e físicos. A sensação de insegurança provoca irregularidades como ansiedade, depressão, hipertensão, taquicardia, distúrbios do sono e apetite, além de dificuldades de concentração. É um ciclo desafiador: o cérebro humano está sempre preparado para lutar, mas ninguém consegue sustentar esse nível de tensão sem consequências.

Marilda aponta que essas reações ao estresse são comuns em muitas pessoas expostas diretamente ou indiretamente à violência. Mesmo as chamadas "vítimas secundárias" – aquelas que não estão na linha de frente do perigo – podem sentir os reflexos emocionais e físicos desse ambiente.

Qual é o papel do poder público na gestão do estresse?

A solução para lidar com esse estresse permanente pode vir de ações governamentais voltadas para o treinamento da população em como gerenciar o estresse. Marilda propõe que uma iniciativa pública possa ajudar aqueles que não têm acesso fácil a profissionais de saúde mental. "Ensinar nossas crianças a lidar melhor com o estresse é crucial," diz ela. Esse tipo de programa poderia ser integrado em serviços de unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) e em escolas.

Impacto na saúde coletiva: o que vem depois?

O psiquiatra Octávio Domont de Serpa Júnior, da UFRJ, observa que após eventos que causam alta comoção, a busca por serviços de saúde sempre aumenta. Ele alerta que esse é um problema estrutural, político e social que afeta toda a coletividade. A solução passa por políticas públicas que reconheçam essa dimensão social do problema.

"É crucial que os profissionais de saúde estejam preparados para atender tanto as vítimas diretas quanto as indiretas da violência", destaca Domont. Caso contrário, a tendência é que sintomas emocionais se tornem crônicos, especialmente considerando que é provável que muitos enfrentem tais situações novamente se não houver um investimento sério na segurança pública.

A violência urbana no Rio de Janeiro é um desafio enorme, que pede soluções integradas entre a atuação das forças de segurança, programas de apoio emocional e políticas públicas eficazes para reconstruir um ambiente mais seguro e saudável para todos.



Com informações da Agência Brasil

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