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BRASIL

Especialistas criticam retórica de governadores sobre combate ao crime

Nos últimos tempos, o Rio de Janeiro tem sido palco de uma complexa mistura de operações policiais e discursos políticos. No centro dessa trama está o "Consórcio da Paz", lançado recentemente por governadores próximos ao governador Cláudio Castro. Esta in

02/11/2025

02/11/2025

Nos últimos tempos, o Rio de Janeiro tem sido palco de uma complexa mistura de operações policiais e discursos políticos. No centro dessa trama está o "Consórcio da Paz", lançado recentemente por governadores próximos ao governador Cláudio Castro. Esta iniciativa, cujo nome já suscita debates acalorados, visa integrar esforços contra o crime organizado em nosso país. Mas será que esse consórcio tem nome apropriado?

Não faltam críticas ao título escolhido. O sociólogo Ignacio Cano, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), não poupa palavras: "Os governadores erraram no nome. Deveria se chamar Consórcio da Morte". Segundo Cano, usar a palavra "paz" em meio a uma operação que resultou em 121 mortes parece ironizar a tragédia. Essa estratégia discursiva está recebendo atenção e crítica de especialistas em segurança pública.

Especialistas criticam retórica de governadores sobre combate ao crime

O que realmente está em jogo com o termo "narcoterrorismo"?

Em meio a discursos inflamados, alguns governadores, como Tarcísio de Freitas de São Paulo e Romeu Zema de Minas Gerais, adotaram a controversa expressão "narcoterrorismo" para rotular facções criminosas. Mas será que esse termo faz sentido? Segundo a antropóloga Jacqueline Muniz da UFF, trata-se de uma simplificação perigosa que mascara problemas mais profundos de gestão e estratégia na segurança pública.

Ignacio Cano complementa: "Terrorismo normalmente está ligado a objetivos políticos. O termo ‘narcoterrorismo’ não faz sentido porque foge desse conceito." Imersos em um cenário onde a lei brasileira define claramente o que é terrorismo, a ampliação desse termo pode levar a decisões equivocadas e à justificativa de ações não transparentes das autoridades.

Especialistas criticam retórica de governadores sobre combate ao crime

Como a pressão internacional influencia os discursos nacionais?

Vozes internacionais também ecoam nesse debate sobre segurança. Países como a Argentina e o Paraguai já rotularam o PCC e o Comando Vermelho como terroristas, e há uma pressão para que o Brasil siga o mesmo caminho. Mas quais são os riscos de acatar esse conselho? Especialistas alertam que isso pode intensificar interferências externas e fragilizar nossa democracia.

"Uma forma de os Estados Unidos intervirem de forma mais efetiva é justamente apelar para a questão do terrorismo", comenta Jonas Pacheco, pesquisador da Rede de Observatórios da Segurança. Essa intervenção pode gerar desdobramentos indesejáveis para nossa soberania.

Especialistas criticam retórica de governadores sobre combate ao crime

Estamos em uma "guerra" contra o crime?

Nossa política de segurança pública frequentemente recorre ao termo "guerra", mas o que essa narrativa implica? Especialistas como Jonas Pacheco denunciam os riscos de militarizar o discurso da segurança. Quando falamos de "guerra", validamos ações que podem desumanizar vastas áreas e populações.

"Quando você pauta o debate na ideia de guerra, você valida ações que barbarizam todo um território", diz Pacheco, que questiona quem realmente é o alvo dessa "guerra". Para ele, isso suaviza o impacto de ações que deveriam ser centradas em preservar vidas.

O discurso de "guerra" e "narcoterrorismo" não só altera a percepção pública, mas também arrisca ampliar autoritarismos e reduzir garantias legais fundamentais. Para uma segurança pública efetiva, precisamos reavaliar não só estratégias, mas também as palavras que usamos para descrever nossa realidade social.



Com informações da Agência Brasil

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