No tradicional Dia de Finados no Brasil, fiéis da Paróquia Bom Jesus da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, estenderam suas preces além dos entes queridos, tocando no sensível tema da Operação Contenção, considerada a mais letal do estado, que vitimou 121 pessoas. Com a violência ainda ecoando nas favelas vizinhas, a missa deste domingo (2) tornou-se um momento de acolhida e reflexão sob a condução do padre Marcos Vinícius Aleixo.
"Todos que vêm, sejam mães, familiares, amigos, nesse momento de dor, nós temos acolhido, rezado e intercedido por essas pessoas", compartilha o padre, que enfrentou a dor e o medo crescentes no bairro, escritos nos rostos daqueles que buscaram abrigo espiritual nesta celebração.
Qual o impacto da insegurança na vida dos fiéis?
"As pessoas estão com medo e até mesmo a frequência nas missas diminuiu", confessa o padre Marcos. O temor entre os moradores é palpável, refletido em suas ausências na igreja. "A insegurança reina no bairro por conta disso. Muitas pessoas ficam com medo de sair de casa, com medo de vir até a missa", testemunha o religioso. Essa sensação de medo constante ressoa nas palavras dos moradores, que demonstram frustração com a instabilidade que governa seu cotidiano.
"O tiro, o barulho, isso tudo traz traumas, crise de ansiedade, traz medo às pessoas que lá dentro moram. São pessoas que honestamente trabalham e têm a sua vivência diária", reforça o padre no cerne do debate sobre segurança.
Como a população vê o resultado da operação?
A apenas um quilômetro da igreja, um cenário de desolação: a Praça São Lucas virou ponto de encontro para corpos resgatados após a incursão em áreas de mata entre os complexos favelados do Alemão e da Penha. 121 mortos, entre eles, civis e policiais, marcam este episódio cujo alvo era o Comando Vermelho. Está tudo mais difícil para os moradores que, frequentemente, se veem numa pinça entre o crime organizado e a ação policial.
"A gente não tem sossego. Afeta. Claro que afeta, principalmente porque você tá encurralada", desabafa uma moradora sobre o impacto das operações em sua vida. A rotina dos moradores parece cada vez mais cerceada não só pela violência, mas também por controles sutilmente impostos, como cobranças de "pedágios" pelo caminho. "É tranquilidade que eu cobro. Porque a gente não tem mais paz, não tem sossego", clama esta voz anônima do bairro.
De quem é a responsabilidade pelas críticas à operação?
As ações policiais no Rio de Janeiro vêm sob intensas críticas, tanto de dentro quanto de fora do país. O Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU) expressou preocupações, somando-se a denúncias de tortura por parte dos familiares das vítimas. Ainda que o governo estadual defenda a ação policial, afirmando que os conflitantes eram os que resistiram, as dúvidas persistem sobre a legalidade e a humanidade das táticas empregadas.
Mesmo entre o medo e a desconfiança, alguns moradores, sem identidade revelada, admitem uma sensação, ainda que tênue, de segurança. "O Rio de Janeiro está meio largado em questão de segurança. Isso [a operação], de uma certa forma, acaba trazendo uma sensação de que estão fazendo algo", analisa um deles, reconhecendo a complexidade do cenário sob muitos prismas.
Como você pode ver, essa narrativa complexa deixa saldos tanto de horror quanto de esperança em um cenário em que a paz e a segurança ainda parecem distantes.
Com informações da Agência Brasil