Em um evento promovido pelo Senado, o professor de ciência política da Universidade de Harvard, Steven Levitsky, lançou um olhar crítico sobre a reação do Brasil e dos Estados Unidos diante de ameaças à democracia. Ele destacou que, frente à tentativa de golpe de Estado liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, conforme denunciado pela Procuradoria Geral da República, a resposta brasileira foi mais eficaz comparada à americana frente ao autoritarismo de Donald Trump. Levitsky trilhou os caminhos que levaram ao enfraquecimento das instituições democráticas, enquanto instigava a reflexão sobre a resiliência das democracias latino-americanas.
O que faz o Brasil responder melhor?
Steven Levitsky não poupou elogios ao Brasil ao afirmar que a Suprema Corte Brasileira agiu corretamente ao defender a democracia de maneira incisiva, contrastando com o Congresso e Judiciário americanos, que, segundo ele, "abdicaram de suas responsabilidades". Isso leva à ironia mencionada por Levitsky: hoje, os Estados Unidos, em vez de aprenderem com o exemplo brasileiro, aplicam sanções como forma de retaliação.
Por que o histórico faz diferença?
Levitsky deixou claro que a memória coletiva de autoritarismo na sociedade brasileira, ausente nos Estados Unidos, favorece uma resposta mais assertiva ao autoritarismo. Ele lembra que países como o Brasil, Argentina, China, Coreia do Sul e Alemanha carregam experiências que moldam suas ações contra governos autocráticos.
Quais novos desafios as democracias enfrentam?
Para o professor, o perigo que emerge não vem mais de golpes militares, mas de líderes eleitos que subvertem as instituições democráticas. "São pessoas que atacam as instituições democráticas para subverter tudo", alertou Levitsky, classificando-os como populistas que criam crises e minam as democracias.
Como manter a resiliência?
O pesquisador cita exemplos de presidentes como Jair Bolsonaro e Javier Milei, apontando que, apesar das dificuldades, as democracias latino-americanas têm mostrado resiliência. Esse cenário contrasta com um ambiente internacional menos favorável e oscilações nas condições econômicas, sociais e políticas que tornam o caminho das democracias mais desafiador.
Quais efeitos as redes sociais têm?
Outro ponto levantado é o poder de erosão das redes sociais. Elas amplificam o descontentamento e desafiam as instituições tradicionais, resultando em uma queda significativa na satisfação com as democracias, evidenciada pela desilusão de 28% dos latino-americanos.
O que explica o descontentamento político?
Levitsky discute que desigualdades sociais, má condução econômica e corrupção alimentam o descontentamento, dando espaço para a eleição de populistas e autocratas. "Mesmo governos bem-sucedidos enfrentam a frustração popular quando falham na entrega de serviços", afirma o professor.
Quais são os guardiões da democracia?
No passado, os partidos políticos e a mídia foram guardiões cruciais, mas Levitsky alerta para o novo cenário em que políticos podem ignorar mediadores tradicionais em favor de campanhas diretas. A proteção das democracias, enfatiza, precisa ser uma iniciativa conjunta de todos os líderes políticos.
Como sair desse cenário?
Citando exemplos históricos, Levitsky propõe que a proteção à democracia exige ações vigorosas por parte do Estado e uma coalizão de partidos para excluir extremistas. "Se instituições falharem, a sociedade civil deve atuar como guardiã", aconselha o professor, reforçando que normas democráticas devem ser defendidas ativamente.
Eventos e publicações importantes
Durante o seminário, foi lançada a coletânea Democracia Ontem, Hoje e Sempre, que traz uma série de reedições de livros relevantes sobre a história política brasileira, fornecendo novas lentes para entender as nuances das democracias modernas.
Com informações da Agência Brasil