Você pode imaginar a dor de uma mãe ao ver a imagem soridente de seu filho substituída por memórias de uma tragédia irreparável? Na casa simples de paredes amarelas no Jardim Mutinga, em Barueri, uma fotografia de Fernando Luiz de Paula capta seu sorriso largo, em uma cena congelada no tempo antes do violentíssimo evento que tirou sua vida e a de muitos outros. Em 13 de agosto de 2015, no trágico episódio conhecido como Chacina de Osasco, Itapevi e Barueri, que ceifou 19 vidas.
O que levou a tudo isso? Aquela noite fatídica estava repleta de violência e, como em um roteiro de vingança, os assassinatos ocorreram após as mortes de um policial militar e de um guarda-civil metropolitano. De acordo com o Ministério Público, essas execuções foram retaliações perpetradas por PMs, que, em um surto de fúria e descompasso, cometeram atrocidades em um raio de sete quilômetros.

Qual foi a reação das famílias das vítimas?
Após dois anos de espera por justiça, dois policiais, Fabrício Emmanuel Eleutério e Thiago Barbosa Henklain, foram finalmente condenados com penas que ultrapassam dois séculos de detenção. Contudo, o sentimento de justiça foi logo quebrado quando, em mais um julgamento, alguns réus foram absolvidos, trazendo à tona a frustração e descrença no sistema judicial.
Para Zilda Maria de Jesus, mãe de Fernando, a perda foi um golpe além do suportável. Embora tenha enfrentado a notícia devastadora de que seu único filho fora assassinado de maneira brutal e sem justificativa, ela se ergueu como uma força imponente no movimento por justiça. "Eu mudei muito meu comportamento... já engoli muito sapo, já levei muita porrada na vida", desabafou. Em sua cena doméstica, as palavras dela ressoam diante das paredes que Fernando pintou pouco antes de seu fim trágico.

Como a luta de Zilda inspirou outras mães?
No impacto dos Crimes de Maio em 2006, o Movimento Mães de Maio foi criado, tornando-se uma frente marcante na defesa dos direitos humanos no Brasil. De maneira semelhante, as mães das vítimas de Osasco e Barueri se uniram formando o Movimento Mães de Osasco e Barueri e a Associação 13 de Agosto, presididos por dona Zilda. Essa união transformou dor em luta, impelindo essas mulheres a lutar por justiça e pela memória de seus filhos.
A cada ano, essas mães não apenas prestam homenagem, mas também sustentam vivas as exigências de justiça e responsabilização. Neste ano, o ato está marcado para o próximo sábado, dia 16. Como um lembrete constante de que suas batalhas pessoais ultrapassam seus lutos individuais, Zilda aponta: "Eu não quero dinheiro, ninguém quer dinheiro... queremos justiça".
Qual posição das autoridades sobre o caso?
Procurada, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo afirmou que identificou e indiciou oito pessoas – sete policiais militares e um guarda civil metropolitano, todos expulsos da corporação após o inquérito conduzido pelo Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).
Com informações da Agência Brasil