Imagine receber a informação de que seis em cada dez meninas vítimas de violência sexual antes dos 14 anos nunca contaram sobre o abuso. Assustador, certo? Essa realidade difícil faz parte de um levantamento revelador, Percepções sobre Direitos de Meninas e Mulheres Grávidas Pós-Estupro, liderado pelo Instituto Patrícia Galvão em colaboração com o Instituto Locomotiva. A pesquisa trouxe à luz dados chocantes sobre o silêncio que envolve esses crimes, com respostas de 1,2 mil participantes maiores de 16 anos, de todos os cantos do Brasil.
Esse estudo desnuda a preocupante questão da subnotificação e das poucas buscas por socorro após tais tragédias. Apenas 27% dessas jovens confiaram em alguém da família após sofrerem abusos, e menos ainda, 15%, chegaram a procurar a polícia e só 9% obtiveram atenção médica. Isso representa vidas em estado de alerta e necessidade de apoio urgente que, na maioria das vezes, parece já tão distante.
Por que tantas vítimas de violência sexual sofrem em silêncio?
A invisibilidade das vítimas de violência sexual infantil é um problema que transcende limites regionais ou sociais, mas os números desse levantamento são especialmente assustadores. Apenas 11% das jovens que sofreram abusos sexuais depois dos 14 anos procuraram a polícia, enquanto 14% buscaram serviços de saúde. Além disso, 60% dos entrevistados conhecem alguém que foi abusado na infância, muitas vezes resultando em gravidez precoce.
O que as pessoas realmente sabem sobre estupro?
Quando confrontados com afirmações sobre o que constitui estupro, muitos entrevistados demonstraram falta de conhecimento abrangente. Apesar de 95% reconhecerem pelo menos uma situação clara de violência sexual, apenas 57% entendem que todas as situações descritas configuram estupro. Isso reflete uma lacuna crítica no entendimento das próprias leis de proteção.
Veja como alguns atos são percebidos:
- Sexo com mulher inconsciente: reconhecido por 89%;
- Obrigação a relações sexuais: 88%;
- Sexo com alguém com deficiência mental grave: 87%;
- Mal uso de autoridade como meio de coerção: 86%;
- Coerção por parceiro em práticas sexuais: 85%;
- Obrigação a sexo por parceiro: 84%;
- Sexo com meninas de até 13 anos: 80%;
- Forçar sexo sem proteção: 73%;
- Remover preservativo sem consentimento: 70%.
Quais os direitos dessas meninas e em que situações se pode intervir legalmente?
Há uma gritante necessidade de consciência sobre o direito ao aborto legal em casos de estupro. Quase todos os entrevistados (96%) acreditam que meninas de até 13 anos não têm condições para ser mães, mas somente 41% entendem que uma gravidez nesses casos sempre advém de estupro, dadas as normas legais. Apesar disso, 56% dos entrevistados desconhecem que meninas abaixo dos 14 anos podem legalmente interromper tal gravidez.
Três quartos dos entrevistados sabem que o aborto é permitido em casos de risco à vida da mãe, anencefalia fetal e estupro. Quando perguntadas se desejariam esse direito em caso de gravidez por estupro, 70% das mulheres disseram sim, sendo que 56% considerariam realizar o procedimento.
Com informações da Agência Brasil