Quando o assunto é enfrentar as mudanças climáticas, o que está em jogo na 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, marcada para novembro em Belém do Pará, é mais do que compromissos assinados. É sobre como será garantido o financiamento climático, ou seja, de onde virão os recursos que efetivamente farão a diferença na luta contra o aquecimento global e a crise climática?
Maria Netto, diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade, que tem uma bagagem de 30 anos na área, desmistifica o conceito de financiamento climático e destaca a sua importância na prática real:
"O financiamento climático é aquele financiamento que pode ser público ou privado, que pode ser concessional ou comercial, mas que é sobretudo orientado a atividades que têm como impacto a redução de emissões de gases de efeito estufa, por exemplo, através de projetos de energia renovável, ou projetos que removam o gás de efeito estufa da atmosfera através de restauração florestal. E também para investimentos que promovam a adaptação aos impactos da mudança do clima."
De onde vem o dinheiro para financiar o clima?
Segundo a ONU, o financiamento climático é a destinação de recursos que pode vir de fontes públicas, privadas ou mistas, seja em nível local, nacional ou internacional. No setor público, o fluxo de capital vem de governos e fundos multilaterais, como o Fundo Verde para o Clima e o Fundo Global para o Meio Ambiente. No setor privado, a participação é diversificada, incluindo empresas, doações individuais e financiamento de projetos com créditos climáticos.
Qual é o papel dos países com economias frágeis?
Maria Netto salienta que um dos grandes desafios é incluir países de economias mais vulneráveis no processo:
"Particularmente países mais frágeis, com economias mais frágeis, com dificuldades já hoje inclusive fiscais, que veem, por exemplo, às vezes o custo do impacto do clima deixá-los ainda mais vulneráveis. Alguns países africanos que já têm problema fiscal, têm impactos muito grandes do clima que impactam, por exemplo, a produtividade deles e até o PIB. Há uma visão também importante da conferência e da convenção de que existe uma responsabilidade maior daqueles países que estão emitindo gás de efeito estufa historicamente mais e que tem mais capacidade econômica, os países mais desenvolvidos, de terem um papel protagônico oferecendo esses recursos públicos."
O que está em jogo na próxima conferência?
A expectativa é alta para a conferência em Belém, especialmente no que se refere a superar barreiras não resolvidas na COP 29, realizada no ano anterior em Baku. Desta vez, a proposta do Roteiro de Baku a Belém será incluir uma nova meta ousada: mobilizar US$ 1,3 trilhão por ano até 2035, uma necessidade mínima apontada por especialistas para financiar projetos de mitigação e adaptação climática, especialmente nos países do Sul Global. Este valor é consideravelmente maior que a meta anterior de 300 bilhões e é visto como crucial para proporcionar a estes países acesso justo e suficiente aos recursos necessários para enfrentar os desafios climáticos.
*Com produção de Beatriz Evaristo
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Com informações da Agência Brasil