O último dia da Cúpula dos Povos deixou uma marca indelével nas margens do rio Guamá, em Belém, com uma imagem carregada de simbolismo: o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, acompanhado por ministros federais, exibindo a Declaração Final do evento. Esse foi o desfecho do encontro na Universidade Federal do Pará (Ufpa), um espaço de diálogo vibrante e releitura de políticas que promete ecoar fortemente no cenário global.
A Cúpula dos Povos, que aconteceu paralelamente à COP30, reuniu mais de 1,2 mil movimentos sociais e organizações do Brasil e de 60 outros países. Durante cinco dias, discutiu-se intensamente a crise climática e ambiental sob a ótica dos povos originários, juventudes urbanas periféricas e trabalhadores. O documento entregue às autoridades culpa o modelo capitalista pela crise crescente e propõe um projeto político baseado no internacionalismo popular e feminismo. As propostas criticam "falsas soluções de mercado" e defendem o financiamento público e a taxação dos ricos para proteger terras indígenas e implementar uma reforma agrária popular.
Qual é a importância da Cúpula dos Povos na Zona Azul?
O impacto da Cúpula dos Povos na COP30 foi amplamente reconhecido. O presidente da COP, André Corrêa do Lago, destacou que a entrega da declaração fortalece a posição do Brasil nas negociações oficiais na Zona Azul. Ele expressou gratidão pelo trabalho da sociedade civil mundial, que agora tem uma voz ativa em Belém, e ressaltou que este será um tema na abertura da reunião de alto nível na COP.
“E isso fortalece de maneira incrível a posição do Brasil nessas negociações. É uma negociação super difícil, mas saber que a sociedade civil mundial tem voz em Belém é absolutamente sensacional.”
A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, reforçou a ideia ao sublinhar o papel crucial dos indígenas e quilombolas como guardiões do meio ambiente. Ela celebrou o aumento do número de indígenas na Zona Azul, agora com 900 representantes.
“Até a COP 15, nenhuma dessas vozes aqui estava sendo representada. Mas agora, dez anos após o Acordo de Paris, nós estamos aqui com a conferência do clima na Amazônia, para que nós possamos dizer que a Amazônia tem gente além das árvores.”
Como o governo brasileiro tem respondido às reivindicações da cúpula?
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, participou do encerramento com uma carta de Lula, onde ele manifestou intenção de voltar a Belém para fortalecer o multilateralismo climático. Além disso, o secretário-geral da Presidência, Guilherme Boulos, afirmou que projetos no rio Tapajós só acontecerão com consulta aos povos locais, prometendo estabelecer uma mesa de diálogo contínua em Brasília.
“Criaremos na Secretaria-Geral da Presidência da República uma mesa de diálogo com todos esses povos para recebê-los em Brasília e construir a solução.”
O que aconteceu na Cúpula das Infâncias?
Em um gesto de grande simbolismo, uma carta da "Cúpula das Infâncias" foi entregue às autoridades. Esse evento paralelo coletou reivindicações de crianças e adolescentes que clamam por ação adulta para um mundo melhor.
"Os adultos devem fazer a sua parte, porque estamos fazendo a nossa."
O encontro se concluiu com o tradicional "Banquetaço", na Praça da República, celebrando a diversidade e colaboratividade dos povos presentes. Assim, sem eventos oficiais na Zona Azul, mas com grande vigor social, encerrou-se este marcante domingo, 16.
Com informações da Agência Brasil