Imagine viver em uma comunidade onde a transformação não é apenas uma promessa, mas uma realidade palpável. É isso que Anatália Costa Neto, ou Nat como é carinhosamente chamada, e outras mulheres estão vivenciando no semiárido nordestino. Elas são parte do projeto "Paisagens Alimentares", liderado pela Embrapa Alimentos e Territórios Alagoas, em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Mas o que realmente mudou na vida dessas pessoas?
Nat, a caçula de dez filhos, aprendeu desde cedo a lutar por seus sonhos. Ela começou a trabalhar com apenas 11 anos, ajudando sua mãe a pescar no mangue. Hoje, aos 41 anos, é uma das 14 mulheres que compõem a Associação das Mulheres Empoderadas de Terra Caída, em Indiaroba, Sergipe. Graças ao projeto, além do tradicional artesanato, estas mulheres agora exploram o turismo de base comunitária e até a culinária típica, como o famoso hambúrguer de aratu.
O que realmente mudou com o projeto paisagens alimentares?
Nat foi recentemente laureada com o prêmio Mulher de Negócio na categoria Microempreendedora Individual. Isso não é apenas um título. É um reconhecimento do impacto que o projeto teve em sua vida. Ela aprendeu a calcular o preço de seus produtos, agregando valor e atraindo turistas e moradores locais. “O projeto me fez vender mais”, relata Nat, que agora vê seus hambúrgueres de aratu cruzarem fronteiras em caixinhas de isopor.

Como a agricultura familiar está sendo valorizada?
Ana Paula Ferreira, uma das líderes do assentamento Olho D’Água do Casado em Alagoas, também sente o impacto. “É um projeto transformador”, ela confirma. O assentamento não só expandiu suas atividades em agricultura familiar, mas também fortaleceu laços de identidade e pertencimento, revelando aos visitantes a beleza do cotidiano rural.
Por que a visibilidade é importante?
Ana Paula enfatiza a importância da visibilidade para esses produtores. Mostrar o trabalho ao mundo faz com que os visitantes compreendam e valorizem quem realmente cultiva o alimento. “Quando um visitante vem e tem contato com o agricultor, estamos exaltando quem realmente importa”, destaca ela.
Como surgiu o projeto e quais são os objetivos?
Aluísio Goulart Silva, supervisor de inovação da Embrapa, explica que a ideia surgiu em 2018, em articulação com o BID. O foco é a valorização da biodiversidade brasileira, através de estratégias como a conexão entre alimentos locais e turismo comunitário. O grande desafio? Tecer uma rede sustentável e rica em cultura.
Além de dotar as comunidades com conhecimentos técnicos, o projeto provocou um efeito dominó positivo em termos de sustentabilidade e valorização cultural. Foram identificados cinco territórios e seis comunidades em estados como Sergipe e Pernambuco, cada uma com suas particularidades e riquezas culturais.
O que torna essas comunidades tão especiais?
Cada região tem uma história para contar. Em Alagoas, por exemplo, as comunidades desejavam desenvolver o turismo rural, enquanto em Sergipe, as atividades estavam mais ligadas ao artesanato e à pesca artesanal. Já em Pernambuco, o foco é em tradições quilombolas e marisqueiras.

Qual é o papel das mulheres nesse cenário?
Um detalhe notável e inspirador é o protagonismo feminino nessas comunidades. As mulheres lideram associações, trilhas turísticas e a produção artesanal, ricas em conhecimento agroecológico local. Elas são a espinha dorsal do projeto.
Além de promover o desenvolvimento territorial, essas mulheres estão escrevendo uma nova história de empoderamento e sustentabilidade no nordeste do Brasil, provando que a tradição pode, sim, ser aliada à inovação.
Com informações da Agência Brasil