Na Bolívia, o momento é de incerteza e divisão, especialmente no contexto das eleições gerais marcadas para 17 de agosto. O ex-presidente Evo Morales, figura emblemática da esquerda boliviana, decidiu apoiar o voto nulo, um movimento que destaca ainda mais a fragmentação política no país andino. Enquanto isso, a direita, liderada por figuras como o mega empresário Samuel Medina, surge como favorita nas pesquisas de intenção de voto, apontando para uma possível mudança de poder.
Samuel Medina, conhecido por seu histórico de liderança empresarial e com passagens anteriores por candidaturas presidenciais, desponta como o grande favorito em um cenário de indefinição para a esquerda. Por outro lado, Andrónico Rodríguez, antigo aliado de Evo e atual presidente do Senado, luta para ganhar tração nas pesquisas, sem sequer alcançar os dois dígitos de intenção de voto.
Qual o impacto da divisão dentro do Movimento ao Socialismo?
O racha no Movimento ao Socialismo (MAS), liderado por Evo Morales durante anos, sinaliza um sério rearranjo político na Bolívia. Após um período de governo interino de Jeanine Áñez, marcado por um golpe militar, o MAS conseguiu voltar ao poder em 2020 com Luis Arce. No entanto, desentendimentos entre Morales e Arce evidenciam a tensão interna, tornando parte dos antigos aliados de Evo, agora, seus opositores.
Não conseguindo concorrer novamente devido a restrições eleitorais, Morales optou por criticar abertamente seu partido e seus antigos aliados, promovendo o voto nulo em resposta ao que chama de perseguição política.
Por que a esquerda está tão fragmentada?
Com a desistência de Arce da reeleição em meio a uma crise econômica, a esquerda busca uma liderança que consiga reunir forças para enfrentar a direita mais organizada. Andrónico Rodríguez, embora considerado uma alternativa, não tem conseguido atrair o apoio necessário, enquanto outro nome da esquerda, Eva Copa, retirou-se da corrida, alegando imaturidade política do seu partido recém-criado, Morena.
Especialistas, como o professor de sociologia Clayton Mendonça Cunha Filho, analisam que a manutenção de Morales como figura central no MAS tem fragilizado a legenda, que já foi majoritária no Parlamento.
Como a direita boliviana avança neste cenário?
O enfraquecimento da esquerda abriu caminho para a direita tradicional, representada por Samuel Medina e Jorge "Tuto" Quiroga. Medina é um nome forte, conhecido por sua atuação econômica na década de 1990, e Quiroga, com um currículo de altos cargos públicos, prontos para aproveitar o momento político e liderar as intenções de voto com cerca de 47%, segundo o jornal El Deber.
Com a possibilidade de um segundo turno, a direita parece preparada para uma disputa acirrada, aguardando a consolidação do resultado das urnas.
O que pode mudar para a Bolívia com um governo de direita?
A Bolívia, que se destacou durante a "maré rosa" latino-americana, verá sua robusta Constituição de 2009 colocada à prova sob um possível governo de direita. Promulgada por Evo Morales, a Constituição reflete a diversidade indígena e a plurinacionalidade do país, mas agora pode enfrentar mudanças, dependendo das coalizões políticas formadas pós-eleições.
Para observadores, como Clayton Mendonça Cunha Filho, o próximo governo terá de negociar e adaptar-se à atual Constituição, talvez até fortalecendo o modelo vigente, dissociando as conquistas constitucionais do projeto político de Morales e do MAS.
Com informações da Agência Brasil